HOMILIA da ABERTURA SÍNODO DIOCESANO (14 de Agosto de 2014)
Caríssimos
irmãos e irmãs:
O Senhor nos
concede hoje uma grande graça: a abertura do SINODO Diocesano de Lwena. Será
uma caminhada longa, feita de consultas em cada comunidade, assembleias paroquiais,
eleições, sessões sinodais, publicação de conclusões, certamente mais de dois
anos. Por isso dizemos que o Sínodo não é um evento, é um caminho.
O Sínodo é como fazer um bolo: a mulher
(ou o homem) vai ajuntando os ingredientes, amassa, deixa repousar para que
cresça sozinha sem lhe mexer, pois o fermanto, que leveda toda a massa,
trabalha no silêncio; é como a acção do Espírito Santo, precisa deixar espaço,
dar-lhe lugar, no silêncio, na contemplação. Depois de colocada na forma, a
massa vai no forno, e depois de um tempo o bolo está pronto. Se a galinha não tivesse
dado os ovos, se não colocássemos água, o bolo não sai; até aquele pouquinho de
sal, contribui para o sabor final: todos somos importantes, mas atenção,
ninguém se julgue indispensável, porque aqui o único indispensável é o Espírito
Santo!
Como o bolo,
o Sínodo cresce nos momentos de contemplação de silêncio, de escuta, para deixar-se guiar pelo Espírito. Quando a
inteligência humana se desveste da sua arrogância e humildemente pede: Senhor,
mostrai-me os vossos caminhos, e ensinai-me as vossas veredas. (Sal 24,4), então torna-se sábio.
Nossa terra
oferece uma rica diversidade de
produtos: água, fruta, peixe,
mandioca, hortalizas, mas às vezes passamos fome; temos matas, pedra, areia, mafika,
todos os elementos para construir casas, mas corremos o risco de dormir no
capim. Não estou a falar que materialmente seja assim, mas refiro-me à vida
espiritual, à vida da Igreja: O Sínodo convida-nos a sermos efectivamente igreja, não vivendo a fé de forma isolada,
cada um no seu cantinho, mas como Corpo de Cristo, onde cada membro cumpre a
sua função e não se percebe a si mesmo senão colocando ao serviço dos outros o
tudo quanto é (1Cor.12,12), recebendo de Cristo a vida; o Sínodo nos convida a
sentirmo-nos parte de uma construção bem ajustada onde a pedra angular é Cristo
e o alicerce, os apóstolos. (Ef.2,20)
A comunidade
católica deveria de tal forma dar um testemunho de unidade espiritual que por
contágio positivo combatesse os grandes males da nossa sociedade: o egoísmo, a
rivalidade, a inveja, a corrupção, que empatam as iniciativas de
desenvolvimento e que mergulharam a província de Moxico numa verdadeira
“emergência educativa.
O Sínodo nos move a uma conversão pessoal: Há pecados
que nós cometemos por fraqueza; o coração sensível chora por eles e às vezes
levam-no a uma conversão profunda: “seus
numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor.
Mas ao que pouco se perdoa, pouco ama” Lc 7,47. Mas não é este o pior
pecado: é mais grave deixar crescer rancores, raivas cuidadosamente regadas com
pensamentos inúteis durante anos, antipatias, preconceitos por questões de
língua, procedência, invejas... Ficai a saber que estes sentimentos, mesmo que
enfeitados com análises minuciosas e argumentos aparentemente contundentes, vêm
do maligno, de Satanás. A energia que dispensamos para cultivar com tanto
esmero as inimizades e invejas, são energias que desviamos da tarefa essencial
da evangelização. Talvez entenda-se melhor com um exemplo. Alguém diz: “Agora escolheram a/o fulana/o para
dirigir o grupo, vamos ver o que ela é capaz de fazer...” Com essa frase
apagou o nome, desencorajou os outros/as e o trabalho da fé cai. O Senhor vai
pedir contas disso.
Há uma personagem
que aparece muita vezes nos Salmos; é o “ímpio”: ele faz as orações que estão
prescritas, mas pretende controlar tudo e vive na duplicidade, apresenta-se em
público com arrogância e vaidade; no fundo age como se Deus não existisse. Deus
se compadece de quem peca por fragilidade, mas não pode oferecer a sua graça ao
coração duro e cruel. “A iniqüidade
fala ao ímpio no seu coração; não existe o temor a Deus ante os seus olhos, porque
ele se gloria de que sua culpa não será descoberta nem detestada por ninguém. Suas
palavras são más e enganosas; renunciou a proceder sabiamente e a fazer o bem. Em
seu leito ele medita o crime, anda pelo mau caminho, não detesta o mal. Sal 35, 2-5
Mas a falsidade não vai longe: Vi o ímpio cheio de arrogância, a expandir-se com um cedro frondoso. Apenas
passei e já não existia; procurei-o por toda a parte e nem traço dele
encontrei. Sal 36, 35
O semeador de
divisões, de polémicas inúteis, quem desencoraja aquele que tem boa fé, comete um
pecado maior que outros a que damos a importância que não têm. A vida cristã é
como um combate; a luta que travamos contra a acção de Satanás é real. São
Paulo dizia: Combati
o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. 2 Tim4,7. E o
mesmo Paulo nos adverte que não é contra forças simplesmente humanas que
lutamos: Porque não é contra os seres
humanos que temos de lutar, mas... contra os espíritos do mal que estão nos
céus (Ef 6,12) Satanás faz rusgas, procura infiltrados para realizar o seu
trabalho; que estejam dentro, mas façam o jogo dele. A paixão de Deus é a
salvação, quando alguém impede ou empata o trabalho que leva à salvação, está a
fazer o serviço do inimigo da pessoa humana; por isso este pecado é particularmente
grave.
Atenção: ninguém se apoie nestas palavras para
“detectar” demónios nos outros, não apontemos o dedo, apenas vigiemos para que
no nosso coração não entrem esses sentimentos, não encontrem onde se agarrar,
porque são como a musuwa (mulemba):
cola-se a uma árvore, e suga-lhe a seiva, agarra-se a uma parede e faz cair o
edifício. Não devemos vigiar apenas a língua ou as mãos para não agredir
ninguém: devemos vigiar os nossos sentimentos e os nossos pensamentos.
Iluminados por Deus, devemos colocar uma peneira nos nossos ouvidos, nos nossos
olhos, na nossa mente, para estas coisas não aninhem em nós e, quando nos
apercebemos que já entraram, não hesitemos em apanhar o machado e cortar essas
árvores daninhas, arrancar as raízes e jogar fora as sementes. Não é assim que
fazemos nas nossas lavras? O que fazemos para fora, para colher o que é
necessário para nossa alimentação, façamo-lo também para dentro, para darmos o
fruto espiritual desejado.
Este caminho
de conversão pessoal e comunitário não passa apenas pelo estabelecimento de
mecanismos de diálogo, não basta sentar-se à mesa das negociações e assinar
tratados de paz; e muito mais profundo, é uma abertura à graça de Deus que nos
une, deixar que Deus opere em nós uma transformação interior para que todos
sejamos um, como o Pai e Cristo são um só. (cfr. Jo17,22).
O Sínodo é um tempo de Conversão pastoral; a Igreja existe para evangelizar, tu e eu fomos
baptizados para evangelizar. A conversão de que falo não serve para fomentar a vaidade
das virtudes, mas para acreditar, confiar, entregarmo-nos e Cristo e à tarefa da
evangelização. Há seitas que, sob a aparência de rigor moral, de leis
obsoletas, mas bem observadas, querem ganhar um ar de superioridade inclusive
religiosa. São Paulo escreveu que “há
muitos por aí, de quem repetidas vezes vos tenho falado e agora o digo
chorando, que se portam como inimigos da cruz de Cristo, cujo destino é a
perdição, cujo deus é o ventre, (Filipenses 3,18-19),
não porque comiam e bebiam até arrebentar; pelo contrário, porque orgulhavam-se
dizendo: não como isto, não como aquilo, não bebo isto, não bebo aquilo; como
se fossem santos e justos por praticar estas coisas. Para eles, a salvação não
vinha de Cristo, mas do seu proceder aparentemente muito fino, cuidado,
equilibrado, aumentando a sua vaidade e diminuindo a sua fé. “Ninguém, pois, vos critique por
causa de comida ou bebida, ou espécies de festas ou de luas novas ou de
sábados. Tudo isto não é mais que sombra do que devia vir. A realidade é
Cristo.” Col 2,16-17
Deveria repetir aqui esta frase cinco ou seis vezes, para que ninguém se deixe
enganar. Por isso é necessário evangelizar, porque muitos pensam seguir Cristo
e estão seguindo apenas a vaidade das suas obras: são inimigos da Cruz de
Cristo e inimigos da alegria do evangelho.
O modelo da
fé não é o cristão “tenho tudo” (tenho baptismo – comunhão – confirmação –
casamento)... ter tudo isso está bem, mas basta. A conversão pastoral leva a
assumir cada qual o dom que o Espírito Santo lhe deu para construir a unidade
do corpo de Cristo, todo ele feito para evangelizar. Cada dom é diferente dos
outros, mas não é autónomo porque é parte dum corpo, cuja cabeça é Cristo. Dali
a diversidade de ministérios dentro da Igreja
Para mostrar o verdadeiro rosto
da igreja, que reza, celebra, ensina, atende os pobres, anuncia
Cristo e isto em cada comunidade é
preciso uma conversão! Há comunidades que são semelhantes a cinco
empregados que lutam por sentar na única cadeira de plástico na loja das
poltronas. Está tudo cheio de poltronas de diferentes tamanhos, cores e
modelos, mas só estão a ver a única cadeira de plástico, a começar pelo chefe
da loja! Seria tão diferente se percebêssemos as comunidades a todos os níveis
não funcionando a ministério único, mas desde a rica diversidade ministerial
com que o Espírito Santo orna a sua igreja!
É preciso uma
conversão pessoal para compatibilizar os tempos para estudar, trabalhar, viver
e conviver em família, assumir o compromisso na igreja, não apenas de vir na
igreja, mas de exercer nela um serviço qualificado no anúncio, na oração, no
exercício prático da caridade, superando uma vida espiritual que se parece a
uma casa de apenas um quarto. Quando o cristão “um-quarto-só” era criança e
adolescente, frequentava a catequese, jogava bola na igreja, vivia lá; quando
ingressou no Primeiro ciclo, é estudante, talvez vai à missa aos domingos.
Quando ganhou o primeiro emprego como guarda do estaleiro; ganhou novo
estatuto, fala que foi da igreja. Poderíamos dizer, “simpatizante da Igreja”. E
se ganhou um crédito, é empresário: comprou fato, gravata, pasta... e até um
carro. E vai ao encontro de quem vai lhe dar alguma coisa talvez falsa para
proteger o fato, o gravata, o carro e a conta bancária!
Faço um
parêntesis a partir deste caso: a Bíblia fala sobre a feitiçaria e claramente
diz que o feiticeiro não entra no Reino de Deus, como também quem pratica a
adivinhação ou recorre a ela. Chama a atenção que hoje para nossa sociedade é normal
o filho levantar a mão contra o pai, torturar à própria mãe até à morte,
seguindo os veredictos inapeláveis dos seguidores do pai da mentira. Qual é o
resultado prático? Acabam as famílias, os bairros e a própria cultura,
à qual se invocava para praticar estas coisas. Se nos é permitido eliminar o pai, a mãe, corta-se a raiz e com ela a pertença a uma família, a um povo, a uma cultura... para pensar. (fim de parêntese)
à qual se invocava para praticar estas coisas. Se nos é permitido eliminar o pai, a mãe, corta-se a raiz e com ela a pertença a uma família, a um povo, a uma cultura... para pensar. (fim de parêntese)
Uma casa bem
organizada tem uma sala, um lugar onde dorme o dono da casa ou o casal, quarto
das crianças (M e F), tem cozinha e WC... todos os ambientes são importantes e
mantemo-los limpos, ordenados, arrumados. Porque não fazemos assim na nossa
vida? Há tempo para tudo. E o cristão que adquire uma melhor formação e um
status social mais elevado, longe de se envergonhar da sua fé, enriquece-a com
novos conhecimentos, faz do seu emprego o local de apostolado e da sua família
uma pequena igreja doméstica. Quantos casais lêm a Bíblia juntos uma vez por
semana ao menos? Comece e a sua casa espiritual de um quarto só, vai ficar uma
grande mansão! O que unifica o coração da pessoa humana é Cristo. Como se
entende senão a sua palavra: “Vinde a mim
todos os que estais cansados e sobrecarregados, que Eu vos aliviarei” Mt
11,28
O Espírito
Santo habita em nossos corações para que cada um possa assumir a sua vocação. É
comparável a uma sabotagem espiritual deixar de fazer uma coisa porque o outro
também não faz: “Se aquele, que é o nosso
superior faz assim, ele que deveria dar o exemplo, que fica então para nós?”
Sabes o que fica? Trabalhar com mais afinco para suprir as deficiências do
outro. Esta linguagem só se entende se olharmos para Cristo. Trabalhamos assim
não é por razões humanas, mas para somar-nos ao grande projecto de Cristo, a
salvação de todos e cada um, superando os defeitos alheios, as tentações
pessoais, o cansaço. Para abrir-nos à missão precisamos curar a doença das irmãs
kuhonga, as gêmeas: o pessimismo crônico e a passividade.
O pessimista
crônico abre a boca só para dizer que não vai dar certo, vai concentrar-se num
ponto secundário, ou terciário para não avançar, e quando se pede a sua
colaboração, vai dizer que não tem formação, não sabe, não tem tempo, talvez
pelo desencanto da vida cristã, pelos golpes da vida, ou pela insatisfação de
si próprio. Aberto a Deus, poderá recuperar a juventude da alma, encontrar a
Deus – Amor capaz de recriar o seu coração. Deverá recorrer à fonte de água
viva. O pessimista é um desidratado espiritual. Sal 22, 2-3Conduz-me junto às águas refrescantes, restaura as
forças de minha alma.
A segunda gêmea é a passividade que, em alguns casos,
chega a ser paralisia espiritual. É preciso renovar as metodologias de
transmissão da fé. Tenho estado numa casa onde conservam toda a instalação
eléctrica, os apliques, as tomadas, tudo limpinho, mas há muitos anos que não
têm energia. A fé é energia, luz, vida, é isso que transmitimos, de uso diário,
e não peças de museu que talvez vamos visitar uma vez na vida. Valia a pena
comprar um gerador, mesmo que pequeno, para ter algo de luz. O
católico auténtico sente na pele a urgência da evangelização; por isso recebe e
transmite a energia que vem de Deus e se torna luz.
A Eucaristia
e a Palavra divina são o alimento da caminhada sinodal. Participar de uma Eucaristia
é um acto de amor, de união com Deus, uma paixão mais que uma obrigação. “Deixai
uma paróquia vinte anos sem pároco e adorarão as bestas”, dizia S. João Maria
Vianney, o cura d’Ars.
A Bíblia é o
manancial, Cristo nos fala pelas Escrituras. Sinto imensa pena porque falta um
pouco por toda a parte quem explique com amor o que muitos estão a ler sem
entender. Act 8,31
Como é que posso entender, se não há alguém que mo explique? Foi
a primeira palavra frase de um africano no contacto com o arauto do evangelho, Filipe,
quando estava a ler o livro do profeta Isaías. Sublime abertura do coração para
a salvação! Um apelo que se repete com contornos dramáticos por causa do
pulular de seitas não só no longínquo Luacano, mas também na periferia de
Luena. Faltam braços, faltam línguas. Senhor,
envia operários para a tua messe.
Cada cristão
é um missionário pelo seu baptismo. A tarefa inalienável da evangelização é, ao
mesmo tempo, fonte de superação do pecado, antídoto contra a superstição e prevenção
da entrega do coração a poderes obscuros.
Que estes
sentimentos nos movam a olhar para Cristo, amá-lo, segui-lo servi-lo anunciando
o Evangelho de modo que Col 3,17 “Tudo
quanto fizermos, por palavra ou por obra, seja feito em nome do Senhor Jesus,
dando por Ele graças a Deus Pai.”
Na oração do
Sínodo, ofereçamos ao Espírito Santo a nossa fragilidade, Ele que “tira força da fraqueza humana e faz da
nossa fragilidade o testemunho da Sua grandeza” (Liturgia, Prefácio dos
Mártires) ,torne fecundo o nosso Sínodo.
E que Nossa
Senhora da Assunção, Nossa Padroeira, “já
elevada à glória do Céu..., sinal de consolação e esperança para o povo
peregrino” que somos nós, acompanhe esta Igreja de Lwena na sua caminhada
sinodal.
ORAÇÃO
PELO SÍNODO DIOCESANO DE LWENA
Espírito
Santo
vem
enriquecer com teus dons a nossa pobreza,
dá-nos o
dom da Sabedoria
para
descobrir a vontade do Pai
em nossa
Igreja de Lwena que celebra o I Sínodo Diocesano,
para que
vivamos num só coração e numa só alma,
numa
comunhão dinâmica, aberta e missionária,
Que
sejamos uma igreja fraterna, de portas abertas,
capaz de
acolher a todos e enfrentar com audácia
os
desafios da nova evangelização
Dá-nos a
coragem de assumir a nossa vocação na igreja
vencendo
as tentações do pessimismo e da passividade,
dedicando
as nossas melhores energias
para
levar para frente a nossa missão
com
criatividade, paixão e ousadia,
para que
tudo o que façamos em palavras e obras
seja
feito em nome de Jesus.
Nossa
Senhora da Assunção, nossa Padroeira
e Estrela
da Evangelização
guie os
nossos passos.
Amén
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