Carta pastoral anunciando o Sínodo Diocesano
KWENDA HAMWE
SÍNODO SOBRE A EVANGELIZAÇÃO
ANÚNCIO DO SÍNODO DIOCESANO DE LWENA
1.
Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo: 2013
é um ano que ficará marcado na história da Diocese de Lwena: nele celebramos os
primeiros 50 anos de Diocese, o nosso Jubileu, comemoraremos em breve os 80
anos de evangelização no nosso território e encerramos hoje o Ano da Fé vivido
a nível da Igreja Católica no mundo inteiro.
2.
E também nesta Eucaristia quero anunciar a
realização do primeiro Sínodo Diocesano.
3.
“Sínodo” é uma palavra um tanto pomposa.
Recordo nos últimos 25 anos os Sínodos de Benguela e Luanda.
OS SÍNODOS DIOCESANOS: PASSADO E PRESENTE
4.
Que é um “Sínodo Diocesano”? A palavra
“Sínodo” vem da língua grega. Nessa língua “caminho” se diz “ódos” e a nossa
preposição “com” diz-se “sin”. Dali a palavra “Sínodo” significa “caminho-com”,
caminho em comum, caminhar com os outros, caminhar juntos: Kwenda Hamwe. A
língua grega era falada nas primeiras comunidades cristãs, sabemos que é a
língua na qual estão escritos os evangelhos.
5.
Desde os primeiros tempos da Igreja os
Bispos convocavam assembleias, a começar por Jerusalém[1] para
dar respostas às novas situações. E deram o nome de “sínodos” a estas
assembléias.
6.
Desde os primeiros séculos, os sínodos
foram um dos meios através dos quais os bispos “movidos pela
caridade fraterna e pelo zelo da missão universal confiada aos Apóstolos,
uniram as suas forças e vontades para promoverem o bem comum e o de cada uma
das igrejas”[2]. O
mesmo Concílio Vaticano II, que acabamos de citar, deseja que o Sínodo “retome novo vigor, para se prover mais adequada e eficazmente ao
incremento da fé e à conservação da disciplina nas várias igrejas, segundo as
exigências dos tempos”[3].
7.
Inspirados e motivados por este desejo, não só
empregamos a palavra “sínodo”, mas queremos viver o seu espírito. Os sínodos expressavam um modo de compreender,
de sentir, de viver e realizar a igreja. Assim, convocar o primeiro sínodo da
Diocese de Lwena supõe um modo particular que eu tenho de compreender a igreja
e meu ministério nela e para ela. E um modo de animar e motivar os padres,
missionários/as e leigos para que se sintam igreja e proclamem essa identidade com veemência: “eu
sou igreja, tu és igreja, somos a igreja do Senhor”. E por isso tudo quanto é
Igreja nos pertence, não nos é alheio.
8.
Tudo na Igreja nos diz respeito:
alegra-nos ou causa dor, consola ou desorienta, entusiasma ou nos coloca em
crise, mas não nos deixa indiferentes. O Sínodo não é apenas uma série de
reuniões para decidir alguma coisa, como se tratasse de uma assembléia
periódica. É, sim, um evento no Espírito
Santo, para escutar a Palavra, para perguntar a Deus e iluminar a nossa realidade, por onde devemos
ir, o que devemos mudar, como nos devemos converter.
UM CONVITE VEEMENTE
9.
O Sínodo não é uma reunião contra alguém:
padres contra madres, leigos contra padres, movimentos contra comunidades,
comunidades contra catequistas; pelo contrário, é um momento de comunhão para ajudar o Bispo Diocesano a Governar a
Diocese[4],
assumindo cada um/a sua vocação, que nasce do baptismo, dom de Deus, e que é
completado com outras graças que direccionam o primeiro chamamento: o
matrimónio, o sacramento da ordem, a profissão religiosa, a pertença a uma
comunidade cristã, etc.
10.
Todos somos igreja, todos somos chamados
por Deus Pai a viver em comunhão com Cristo e entre nós, animados pelo mesmo
Espírito, que é o laço da unidade e é quem reparte os dons e carismas, que são
diferentes, mas não ocasião para vaidade e divisão, mas para o serviço humilde
em benefício de todo o Corpo de Cristo.
11.
Viver em atitude sinodal é participar
dinâmica e corresponsavelmente na vida e missão da Igreja, é construir e
reconstruir cada dia a comunhão fraterna pela gratuidade e o perdão e alargar
essa humanidade reconciliada em círculos concêntricos cada vez mais amplos:
comunidade eclesial, família, ambientes de trabalho, bairro, Municípios,
sociedade em geral.
12.
A finalidade
do Sínodo, é pois, prestar um auxílio ao Bispo no exercício da função que lhe é
própria, de guiar a comunidade cristã.
Verificamos muitos sinais positivos quanto à evangelização e graças a Deus vivemos em comunhão, já entramos no dinamismo da comunhão trinitária, que é causa, exemplo e meta da nossa comunhão. Mas ainda não chegamos à perfeição no amor. Ainda somos um povo que caminha entre consolações e dores, muitas vezes profundas, no território da Província de Moxico. Esperamos e trabalhamos para que venha o Reino de Deus em plenitude, e rezamos: “Vinde, Senhor Jesus”. Estamos em “Sínodo”, a caminho.
Verificamos muitos sinais positivos quanto à evangelização e graças a Deus vivemos em comunhão, já entramos no dinamismo da comunhão trinitária, que é causa, exemplo e meta da nossa comunhão. Mas ainda não chegamos à perfeição no amor. Ainda somos um povo que caminha entre consolações e dores, muitas vezes profundas, no território da Província de Moxico. Esperamos e trabalhamos para que venha o Reino de Deus em plenitude, e rezamos: “Vinde, Senhor Jesus”. Estamos em “Sínodo”, a caminho.
13.
Por isso faço a todos um convite veemente
a participar, a sentir-se membro do Sínodo, com atitudes positivas,
construtivas para o crescimento do corpo de Cristo nesta amada terra de Moxico
EUCARISTIA,
SÍNODO E MISSÃO
14.
A celebração eucarística é uma expressão
clara e eficaz da realização da igreja sinodal, que é, ao mesmo tempo,
comunitária, servidora e missionária. O sacramento do Pão eucarístico significa
e realiza a unidade dos crentes que formamos um só corpo em Cristo e um corpo
orgânico e harmoniosamente articulado com diversidade de membros, ministérios e
serviços.
15.
Popularmente chamamos à Eucarista de
“Missa”. Recorda as antigas palavras de despedida: Ite, missa est. Missa significa missão, envio. Ao concluir a
Eucarista não ficamos fechados no recinto de um templo, mas somos enviados,
colocamo-nos em caminho para levar e testemunhar Jesus Cristo vivo nas nossas
ruas, casas, escolas e locais de serviço, nas nossas famílias e nas
instituições políticas e sociais. A Igreja está, edifica-se e cresce na
Eucaristia. E Igreja se faz sínodo na Eucaristia.
A REALIDADE DA IGREJA DE MOXICO
16.
A nossa Diocese, depois de um período
inicial de franca expansão, viveu um tempo caracterizado não só pela destruição
ou grave deterioro de mais de sessenta das suas estruturas, mas também pela
dispersão de inúmeras comunidades por causa das guerras de independência e
sobretudo pela guerra fratricida que assolou o país todo e muito
particularmente a nossa província. Nessa altura, houve uma diminuição drástica
de missionários e uma dispersão notável de muitos fieis. Foi um período amargo
da nossa história, mas também temos que reconhecer e agradecer pastores e
fiéis, principalmente os catequistas, que mantiveram viva a chama da fé do
nosso povo.
17.
Com o advento da paz foi possível a
reinstalação das populações nos locais de origem e a abertura de muitas
missões, trabalho feito com muito sacrifício e heroísmo. Actualmente, após mais
de dez anos de paz, vivemos um tempo privilegiado: há liberdade religiosa, que
nem sempre existiu no passado, e, mesmo com as dificuldades inerentes ao estado
dos caminhos, é possível chegar até aos locais mais recônditos da nossa extensa
Diocese.
18.
Apesar destes sinais positivos, não nos
podemos iludir: Angola tem 522 anos de evangelização e Moxico apenas 80, boa
parte deles vividos em conflitos armados, com a conseqüente carência de
missionários e de condições propícias para a tarefa da evangelização. Por isso não é de admirar que o nosso
território tenha uma das percentagens
mais baixas de católicos a nível nacional.
19.
Não podemos deixar de agradecer a
Deus a resposta positiva ao apelo feito para a vinda de novos missionários/as:
chegaram num número ainda muito aquém do necessário, mas significativo,
provenientes de muitas partes do país e do mundo inteiro.
20.
As comunidades cristãs partilham
tradições eclesiais diversas: aquelas que permaneceram no território da
Província, aquelas que emigraram para outras localidades de Angola, as que
passaram longos anos além fronteiras; cada uma delas carrega consigo tradições
culturais e eclesiais que se expressam no modo de celebrar, de orar e de
constituir comunidades.
21.
Esta diversidade em si mesma é
riqueza, mas como fazer para que seja partilhada e, sobretudo, para conseguir
uma identidade, uma fisionomia própria como Diocese?
O NOSSO ESTILO DE SER
IGREJA
22.
Os anos de conflito e as
dificuldades inerentes à pos-guerra, não ajudaram a implementar o novo estilo
de ser igreja, que, a partir do Concílio Vaticano II foi dando um novo rosto,
uma nova dinâmica a toda a igreja e que se foi actualizando para nós através dos
Sínodos Africanos e dos documentos deles emanados, nomeadamente “Ecclesia in
Africa” do Beato João Paulo II e “Africae Munus” do Papa Bento XVI.
23.
Quanto à pastoral, falta unidade
de critérios; há orientações, mas nem sempre são assumidas por todos, criando
divergências e atraso pastoral, que se verifica no andamento das comunidades
cristãs e a morosidade na aplicação de dinâmicas que tornariam mais eficaz a
tarefa da evangelização, tornando a nossa igreja local mais missionária. Para
esta necessária viragem contamos com duas ferramentas valiosas: O Conselho
Diocesano de Pastoral e o Secretariado Executivo da Pastoral (SEP)
APELOS E PERSPECTIVAS
24.
E precisamente quanto à sua
“missionariedade”, a nossa igreja local é deficitária: há populações inteiras
sem presença da igreja, comunidades eclesiais que não são visitadas;
verifica-se um certo comodismo: é imperioso despertar para a missão recebida no
baptismo; temos que começar a “sair” das nossas estruturas eclesiais para ir ao
encontro das populações, desafiando as distâncias; mas mesmo na cidade de Luena
e nos novos bairros das vilas de Moxico encontramos uma gritante falta de
presença de igreja, perante o silêncio e passividade de muitos. Todos, pelo
nosso baptismo somos missionários. Urge a necessidade de ir ao encontro dessas
populações.
25.
A estas periferias, devem
agregar-se outras que são como “novos mundos” emergentes que devem chamar a
nossa atenção: a quantidade cada vez crescente de imigrantes que chegam à nossa
Província, as TICs e um mundo juvenil com novos valores, expressões e
desafios.
26.
As comunidades, não raro,
funcionam a “ministério único” (catequista, pároco) sem mostrar ao mundo, a
diversidade de serviços e ministérios que têm sua origem que tem e a variedade
polifônica dos dons do Espírito Santo, que os suscita e sustenta.
27.
Não podemos ignorar os desafios
que advém de fenômenos antigos que assumem novas formas e nos interpelam: a
solidificação da mentalidade feiticista, o surgimento de seitas e movimentos
religiosos que, em grande número, apresentam-se como alternativa atraente com a
sua teologia da prosperidade e promessas que, mesmo incumpridas, não deixam de
fascinar e seduzir.
O SÍNODO COMEÇA HOJE
28.
O Sínodo, sem ser o remédio para todos os nossos males, é
uma tentativa de dar uma resposta madura a estes desafios, numa pastoral
orgânica, rica pela sua diversidade, que cria comunhão, não tanto como fruto de
acordos entre nós, mas a partir da nossa união com Cristo.
29.
Esta Igreja-família, Igreja-comunhão,
Igreja-corresponsabilidade, que podemos chamar igreja sinodal, tem organismos e
estruturas, que são as paróquias, as comissões, diocesanas e paroquiais, os
conselhos diocesanos e paroquiais.
30.
Este sínodo que hoje anuncio concluirá, se
Deus quiser, no fim do ano 2015, mas não tem ainda uma data fixa. Inicia hoje,
com a nomeação da comissão preparatória.
31.
Coloco este Sínodo sob a protecção de
Nossa Senhora de Fátima, cujo santuário teremos a ocasião de inaugurar em
breve, e de Santa Teresa de Jesus, Doutora da Igreja, mestra da vida
espiritual, cujo 5º centenário do nascimento será comemorado durante o nosso
Sínodo.
† Jesus
Tirso Blanco
Bispo de
Lwena
24 de
Novembro de 2013
Encerramento
do Ano da Fé na Festa de Cristo Rei
ACTO DE ENTREGA A NOSSA SENHORA
Bem-Aventurada Virgem de
Fátima, com renovada gratidão pela tua presença materna unimos a nossa voz à de
todas as gerações que te dizem bem-aventurada.
Celebramos em ti as grandes obras
de Deus, que nunca se cansa de se inclinar com misericórdia sobre a humanidade,
atormentada pelo mal e ferida pelo pecado, para a guiar e salvar.
Acolhe com benevolência de Mãe o
acto de entrega que hoje fazemos com confiança.
Temos a certeza que cada um de
nós é precioso aos teus olhos e que nada te é desconhecido de tudo o que habita
os nossos corações. Deixamo-nos alcançar pelo teu olhar dulcíssimo e recebemos
a carícia confortadora do teu sorriso.
Guarda a nossa vida entre os teus
braços: abençoa e fortalece qualquer desejo de bem; reacende e alimenta a fé;
ampara e ilumina a esperança; suscita e anima a caridade; guia todos nós no
caminho da santidade.
Ensina-nos o teu mesmo amor de
predilecção pelos pequeninos e pelos pobres, pelos excluídos e sofredores,
pelos pecadores e os desorientados; reúne todos sob a tua protecção e recomenda
todos ao teu dilecto Filho, nosso Senhor Jesus.
Amém.
(Papa
Francisco, Roma, 13 de Outubro de 2013)
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